quarta-feira, 10 de maio de 2017

BETWEEN US - Capítulo 3

Domingo, 26 de abril. 10:10 

     Antes de fazer o que estava planejando, comi e fui tirar uma dúvida que estava me matando: se eu estava com Dinah aquele dia. Liguei para ela e nada. Deixei várias mensagens e não respondeu. O único jeito era ir na casa dela, mas antes passaria na de Lauren. Estava nervosa, tremendo e suando frio. Minha respiração totalmente descompensada e meu coração a mil por hora. Saí de casa em passos curtos enquanto várias lembranças daquele dia passavam pela minha mente. Por que ela saiu daquele jeito? Por que ela mora naquele lugar? A garota misteriosa e ela eram a mesma pessoa? 
Devo ter demorado dez minutos para fazer uma coisa de trinta segundos. Encarei aquela porta pela segunda vez e diferente da primeira vez, eu bati. Uma, duas, três. Estava prestes a desistir quando congelei ao ouvir a voz que veio por trás de mim. 

     - Me procurando? 

     Ao encarar aqueles olhos verdes tudo ficou em câmera lenta. Era inaceitável pensar que poderia existir alguém mais linda que aquela mulher. Desta vez com o cabelo solto e um batom vermelho. Novamente eu travei ao vê-la. Respiração ofegante. Suor. Tudo normal. Ela pelo contrário estava serena e calma. Me olhava esperando uma resposta, e depois de um tempo, respirei fundo e dei um sorriso de canto. 

     - Eu queria me desculpar pelo que aconteceu. - abaixei a cabeça envergonhada - E te entregar seu cachecol. - estiquei a mão para entrega-la -

     - Obrigada. Eu estava procurando ele - deu um sorriso animado - E está tudo bem, já passou. Me desculpe por ter saído daquela maneira. Tenho a péssima mania de desaparecer. - disse levantando uma sobrancelha e passando a língua nos lábios como de costume - Quer entrar? 

     Eu poderia dizer não, já que estava tudo resolvido. Eu poderia não me envolver mais com ela, pois sabia que algo estava errado. Eu disse sim por pura falta de respeito a mim mesma. Ela passou na minha frente e abriu a porta. De novo eu me assustei ao olhar lá dentro. O lado de fora ainda estava aos pedaços, porém ao interior estava impecável. Depois daquilo só havia uma explicação: eu havia sonhado. Tudo aquilo foi apenas um sonho ruim e equivocado. Respirei de alívio e todas aquelas perguntas sumiram da minha cabeça. 

     - Eu não fiquei chateada pelo que disse. - disse me tirando dos meus pensamentos - Qualquer um que olhe o estado da casa por fora, imaginaria o pior aqui de dentro. Quando cheguei estava bem ruim, mas dei um jeito. - dizia enquanto abria as janelas - Eu não tinha muito dinheiro guardado e ainda não tenho um emprego fixo, então só arrumei aqui dentro. Lá fora talvez demore um pouco mais. - respirou fundo e se virou para mim dando um sorriso de orelha a orelha - Pensei que não falaria mais comigo pelo que houve. 

     - Mesmo assim, me desculpe novamente. - disse um pouco sem graça - Eu gostei bastante. - olhei em volta para não encara-la - Eu realmente não ia, mas não por sua causa e sim por mim. Eu fui idiota. 

     - As duas foram, então estamos quites. 

     Acho que tudo estava bem de novo. Era impressionante como a conversa entre a gente fluiu com tanta naturalidade. Ela era muito divertida e super inteligente. Eu mal conseguia acompanha-la, mas ela tinha muita paciência e me explicava tudo. Ficamos conversando por bastante tempo até que ela foi pegar alguma coisa para comermos. Peguei meu celular e vi algumas mensagens de Dinah. Ufa. 

      - Eu estou bem. Estudando demais, mas bem. 
      - Estou morrendo de saudades de você, garota. Vamos sair no próximo final de semana. Sábado, cinema às 20:00. Se você recusar nunca mais converso com você. Eu te amo.

     Comecei a rir ao ler a mensagem e respondi um "ok, eu te amo". Não tinha como recusar os convites dela. Éramos amigas há anos e ela sempre foi assim, louca. Sempre esteve comigo nos melhores e piores momentos em que ela me metia. 

     - Rindo de que? - ela disse me tirando novamente dos meus pensamentos - 

     - Da minha amiga. - disse em meio a risadas - Ela é hilária. 

    - Imagino, para estar rindo assim. - disse me entregando um pacote de salgadinhos e um refrigerante - Desculpe é só o que tem. 

     - Não tem nada melhor que isso. - tentei anima-la - 

     - Se você não se importar com a saúde, sim. - riu - Vou fazer compras. Amanhã talvez. - olhou para cima como se estivesse querendo dizer algo - 

     - Quer companhia? - perguntei enchendo a boca de salgadinhos e ela assentiu envergonhada - Amanhã depois do trabalho passo aqui e vamos. 

     Ela deu um sorriso de canto e disse que já voltava. Não sei o que ela tinha, mas era maravilhosa. Me levantei para olhar a janela do fundo, a única que ela não abriu. Tentei abrir, mas estava emperrada. Agora estava explicado. Abri a cortina e olhei através do vidro. Nos fundos havia um quintal com algumas flores murchas, duas arvores médias e um balanço. Não era de todo ruim, com um pouco de cuidado ficaria muito bonito. Depois de uns segundos observando me afastei do vidro e no maldito reflexo a vi novamente. Parecia com Lauren, porém mais assustadora. Eu não conseguia parar de olhar e nem me mover. Era ela, a garota que eu sempre via às 22:42. Meu coração disparou dessa vez com mais intensidade, comecei a hiperventilar e fechei os olhos. Ao sentir uma mão gelada em meu ombro dei um grito. 

    - Meu Deus. Calma. Sou eu, Lauren. O que houve? Por que gritou? 

    Olhei rapidamente para ela que estava assustada e com os olhos arregalados. Minha única reação foi ajoelhar no chão, colocar a mão no rosto e começar a chorar desesperadamente. 

     - Camila, me diz o que aconteceu? Por que está assim? 

    Lauren perguntava e eu sequer conseguia explicar o que estava acontecendo. Meus gritos ecoavam pelos cantos da casa e eu não conseguia parar, até que senti seus braços me envolverem e sua cabeça repousar em meu ombro. Abri os olhos e ela estava ajoelhada na minha frente, me abraçando bem forte. Fechei os olhos novamente e retribui o gesto. Tudo que estava sentindo foi parando aos poucos. Agora o que sentia era seu abraço e sua respiração em meu pescoço me fazendo arrepiar. Não sei dizer o tempo exato em que ficamos ali, mas foi o abraço mais longo da minha vida. Era como se ela estivesse esperando o momento certo para me soltar, e enquanto esse momento não chegasse ela continuaria ali. Mais um pouco e ela me soltou e me encarou. Limpei minhas lágrimas e a encarei de volta. Lauren se levantou e estendeu a mão para me ajudar, segurei a mão dela que me guiou até o sofá. 

     - Você não sai daqui hoje, até me explicar o que houve. - disse séria - 

     - Não sei como te explicar. - disse com a voz fanha - 

     - Tente. - disse e se aproximou mais - Vou tentar te entender. 

     Ela me passava uma enorme confiança. Com certeza não sairia dali até entender o que estava acontecendo. Tentei explicar desde o começo, detalhe por detalhe sem esconder absolutamente nada. Ela me olhava com atenção e sem dizer nada. Quando terminei de falar ela respirou fundo e sorriu. 

o que pode ocorrer é uma fixação em determinados pensamentos e sentimentos que podem gerar a certeza de que são reais.

+info: http://www.doctoralia.com.br/enfermidade/transtornos+de+ansiedade-17492/pergunta/excesso-de-ansiedade-causa-alucinacao-667731
     - Você está passando por algum momento difícil na sua vida? - perguntou me olhando fixamente nos olhos - 

     - Que eu saiba não. - a olhei sem entender nada - Por que?

     - Ah, sim. - disse mordendo o lábio - As vezes quando uma coisa ruim acontece com frequência ou só uma vez suficiente para te deixar mal, pode te deixar nervosa e ansiosa. Alguns pensamentos se tornam fixos e recorrentes, fazendo você acreditar que aquilo é real. 

     Eu suspirei e não disse nada. Lauren foi muito atenciosa e conversou comigo tentando encontrar uma solução cabível. Já estava ficando louca com tantas perguntas e teorias que não acabavam nunca. No final, ela me fez prometer que iria a um especialista ver o que estava havendo. Horas depois, voltei para casa. 

Segunda-Feira, 27 de abril. 07:00

     Acordei com uma sensação muito boa. Sabia que havia sonhado com algo bom mesmo não conseguindo lembrar de nada. Não tinha demorado a dormir como nos outros dias, mas estava com muito sono. Fiquei mais um pouco na cama reclamando, até lembrar que era meu primeiro dia de trabalho. Merda. Levantei como um foguete, tomei banho, me arrumei e peguei uma maçã que estava na mesa para comer no caminho. 

     Cinquenta minutos depois finalmente havia chegado. Entrei naquele prédio enorme sem saber o que fazer. No papel que me entregaram dizia: "Quinto andar, sala 221". Entretanto não fazia ideia de onde era este lugar. Estava completamente perdida e era tímida demais para perguntar a alguém. Felizmente uma moça que estava na porta quando entrei veio falar comigo. 

     - Olá. - disse sorrindo - Parece um pouco perdida. 

     - Oi - sorri sem graça - Estou completamente perdida. 

     - Acontece bastante. Meu nome é Allyson. 

     Allyson era o tipo de garota que todo mundo adora por ser meiga e atenciosa. Sempre buscava ajudar todos como podia e tinha um belo sorriso. Era constantemente confundida com alguma criança por ser pequena. Ela me explicou exatamente onde era para ir e me deu algumas dicas de como me portar. Ao achar a sala, me deram algumas instruções e disseram que no primeiro mês assistiria a algumas aulas para entender melhor como tudo funcionava. Depois me mandaram para o andar de cima, sala 305 onde teria as aulas. Uma mulher de uns trinta anos nos instruiu, disse que era nossa madrinha e que nos explicaria e ajudaria no que fosse preciso. 

     Na sala de aula, duas pessoas me chamaram atenção: uma garoto de olhos claros, cabelos bagunçados e loiro. E uma garota negra, presença forte, linda e muito simpática. Os dois pareciam se conhecer e eram os destaques da turma. Sempre respondiam e conversavam com a madrinha. Eu sendo eu, não fui com a cara de nenhum dos três.

      No intervalo queria agradecer Allyson novamente pelo favor, mas não a encontrei. Me sentei em um banco isolado no pátio e tentava ignorar meu estômago que estava reclamando de fome. Como saí rápido, esqueci o dinheiro em casa. Teria que aguentar. Olhei para a saída do pátio e vi Allyson vindo em minha direção, dando pulinhos.

     - Por que está sozinha? - perguntou se sentando ao meu lado - 

     - Não conheço ninguém - dei de ombros - E você? 

     - Você me conhece. - disse e cruzou os braços - E não estou sozinha, estou com você. 

     - Me desculpe - disse e senti minha bochecha queimar - Eu não costumo me dar bem com as pessoas e quando acontece sempre faço alguma coisa errada. 

     Quando disse isso pensei em Lauren. O que ela devia estar fazendo? 

     - Você ouviu o que eu disse? 

     - Hm? 

     Olhei para Allyson que me tirou de meus pensamentos e estava com cara de brava. Me desculpei novamente e começamos a conversar. Ela me deu metade de seu lanche e mesmo recusando mil vezes ainda me obrigou a comer. Infelizmente ela não era da minha sala pelo fato de estar a mais tempo por lá. Quando bateu o sinal voltamos para sala e no último tempo, o garoto que havia reparado não parava de me encarar. Me olhava e cochichava algo com a outra garota. Estava ficando incomodada. Vi os dois levantarem e virem em minha direção. Droga. Quando iam dizer algo o último sinal tocou e deixei a sala correndo sem olhar para trás. 

     

 


   
o que pode ocorrer é uma fixação em determinados pensamentos e sentimentos que podem gerar a certeza de que são reais.

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domingo, 7 de maio de 2017

BETWEEN US - Capítulo 2

      DREAMS AND ILUSIONS


     Eu imaginava que por dentro a casa estaria ruim, mas não daquela maneira. Aquele lugar era totalmente inabitável. As paredes com rachaduras, infiltrações, buracos no chão, os móveis e objetos de madeira destruídos por cupins. Além de ratos e baratas que passeavam por ali. Subi para o segundo andar mesmo com tudo caindo aos pedaços. Precisava descobrir se quem estava morando ali era a garota misteriosa. Olhei em quatro dos cinco quartos que haviam no segundo andar. Dois estavam completamente vazios, no terceiro somente uma cama e um criado mudo e no quarto uma cômoda que aparentava ser o móvel em melhor estado ali, mas assim como os outros estava vazio. A porta do quinto quarto era diferente das outras: maior e mais pesada, cor mais clara e uma mensagem escrita em uma língua desconhecida por mim. Por ser mais pesada tive dificuldade em abri-la. Não havia nada lá, olhei pela janela e dei um grito ao ver uma pessoa parada atrás de mim no reflexo do vidro.

     Podia ser coincidência o que aconteceu em seguida, certamente era coisa da minha cabeça. Uma onda de calor invadiu meu corpo como na noite passada. Fiquei paralisada, olhei para trás e nada. Desci as escadas correndo e foi aí que percebi que aquelas escadas não eram da casa abandonada. Olhei em volta e eu estava em minha casa. O que? Como vim parar aqui? Naquele momento eu percebi duas coisas que me deixaram confusa: estava de noite e a Dinah não estava lá comigo. Olhei para o relógio que fica ao lado da porta e os ponteiros marcavam 22:42. Não conseguia mover as pernas e fiquei ali. Parada. Minha atenção voltada para o relógio que não se movia. Me lembro da minha mãe ter falado que estava sem pilha.

     Depois de muito tempo, ouvi batidas na porta. Em questão de segundos minhas pernas se moveram novamente e desci em passos largos, porém silenciosos. Respirei fundo e me arrepiei. Perguntei quem era e uma voz doce respondeu. 

     - Olá, meu nome é Lauren... Jauregui! Sou sua nova vizinha. 

     Eu tinha duas opções: abrir a porta e encara-la ou ignorar e subir. Pela primeira vez em 20 anos, eu escolhi enfrentar alguma coisa. Respirei fundo mais uma vez, agora por mais tempo, e abri a porta devagar. Minhas mãos suavam como nunca e eu estava gelada. Olhei para frente com medo do que iria encontrar.

     - Desculpe incomodar, mas ouvi barulhos vindos daqui e fiquei me perguntando se estava tudo bem. 

     Ela estava tão perto e sua voz tão distante. Não sei o que estava havendo comigo, não conseguia parar de olhar para aquela garota e nem de reparar nos detalhes. Os cabelos presos em um coque frouxo e visivelmente úmido, boca rosa na qual passava a língua a todo minuto, pele pálida como neve e olhos verdes que iluminavam aquela rua escura. Vestia um sobretudo preto com um cachecol vermelho e uma calça jeans. Simplesmente maravilhosa. O mundo a minha volta parecia ter desaparecido e só ela estava em meu campo de visão. Lentamente em segundos consegui ver cada detalhe e cada traço. Nenhum defeito. Era a perfeição.

     - Você está bem? 

     Ao ouvir aquilo me dei conta do que estava acontecendo. Balancei a cabeça, apertei os olhos tentando afastar meus pensamentos e gaguejei ao responder. 

     - S-sim! Desculpe! - ajeitei a postura enchendo o peito de ar - Está tudo bem, foi só um pequeno acidente. - sorri de canto - 

     Eu estava com medo, mas quando olhei para ela foi como se essa fosse minha última preocupação e eu não tivesse mais o controle do meu corpo. "Talvez tenha sido só um sonho" pensei comigo antes de convida-la para entrar. 

     - Está frio aí fora, entre. - fiz sinal com a cabeça para que entrasse e assim o fez - 

     - Obrigada! Você mora aqui faz muito tempo? - perguntou olhando em volta - 

     - Desde que nasci. - torci a boca por estar nervosa -

     - Oh! Então faz tempo. - deu um sorriso fraco - Me mudei para cá ontem e não conhecia ninguém... - parou por uns segundos olhando para o teto e riu - Até agora!

      Ri junto quando ela disse aquilo e fiquei pensando se ela era a mesma garota que eu via. Não queria deixar a conversa desagradável então resolvi perguntar depois de uma maneira mais sutil. Enquanto isso não acontecia descobri que Lauren tinha 19 anos, morava em Calgary, no Canada e amava hóquei. Veio para Nova Iorque tentar conseguir um emprego e ser independente. Nada de diferente, apenas uma garota normal e bonita. Sem perceber já estávamos conversando há horas ali então resolvi que era hora de perguntar. 

     - Lauren... - dei uma pausa para engolir o que estava comendo - Você já veio aqui antes? 

     - Uma vez, para ver a casa. Por que? - perguntou em um tom diferente - Você me viu? 

     - Acho que sim... - dei outra pausa, mas desta vez para engolir o seco - Desculpe falar, mas a casa que você mora não é inapropriada? - perguntei meio sem jeito - 

     - Hm? - me olhou sem entender - Por que a pergunta? Minha casa está ótima! - se levantou - 

     - Desculpe, não foi minha intenção te deixar nervosa. - disse me levantando e tocando seu ombro - 

     Seria apenas mais uma conversa casual e um toque natural se logo depois ela não tivesse desaparecido como fumaça, bem na minha frente. Ouvi um barulho e a porta estava aberta sendo empurrada pelo vento. Olhei para o sofá e estava o cachecol vermelho de Lauren. Fechei os olhos com toda força que podia tentando me acalmar e não surtar pelos acontecimentos. Ouvi outro barulho. Abri os olhos e com a visão turva vi alguém parado colocando uma bolsa na mesinha de centro. Era apenas minha mãe chegando do trabalho. Respirei aliviada e com um choro preso na garganta abracei-a. Como sempre se preocupou comigo por estar aflita. Tentei acalma-la ao máximo e disse que estava tudo bem. Ela sempre chegava muito tarde do trabalho e depois de olhar o celular, descobri que já eram quase 02:00 da manhã.  

Domingo, 25 de abril. 04:12 

       Me sentei na cama segurando o cachecol. Depois de um dia horrível como aquele só queria dormir e acordar bem. Foi difícil pregar os olhos, fiquei pensando no que aconteceu e acabei dormindo de cansaço.

     Naquela madrugada eu havia acordado mais de cinco vezes, na sexta me levantei para beber água e já estava claro lá fora. Ótimo. Desci as escadas e um flashback passou em minha cabeça, olhei para o relógio e ele estava... funcionando. Peguei um copo d'água e dei um gole. Aquilo desceu rasgando minha garganta como se tivesse engolido lâminas. 

     Desde pequena, sempre que sofro emoções fortes acabo ficando doente. Dor de garganta, febre e desânimo são coisas tão comuns pra mim quanto piscar os olhos. Não podia de jeito algum ficar doente já que meu trabalho começaria no dia seguinte, então tomei alguns comprimidos e fui para o quarto ler. 

     Enquanto lia um de meus livros favoritos, um dos primeiros trechos que sempre passou despercebido me chamou atenção: 

      "Tu deverias acordar deste pesadelo em que se encontra. Olhe para a luz que bate à sua porta e deixe-a entrar. Não se pode viver sofrendo para sempre."

     Depois de ler aquilo, olhei para cama e o cachecol ainda estava lá. Pensei uma, duas, três vezes até levantar e pega-lo para devolve-lo à ela. Encontra-la poderia dar errado como na primeira vez, mas pagaria o preço só para vê-la novamente. 



      

 

quinta-feira, 4 de maio de 2017

HEY

Olá gente! De novo não sei se tem alguém aqui, espero que sim hihi. Saiu um ep de uma nova fic. Caso queiram que eu continue as outras me falem e vou tentar. Caso não, essa vai prender vocês e espero que gostem.
Ps: Voltei pra ficar hihi 
- Duda

BETWEEN US - Capítulo 1

     THE GIRL IN THE WINDOW 

 Sexta Feira, 23 de abril.
     
     Todos os dias às 22:42 uma garota passava pela minha rua e eu conseguia vê-la pela janela. Não sabia nada sobre ela, parecia ter 1,65 de altura ou talvez menos. Cabelos longos e pretos e um corpo invejável. Sempre com uma calça branca e um casaco preto e velho como se fosse a única roupa que tinha.

     Por três meses ela fez a mesma coisa como se fosse um ritual. Parava em frente a uma casa abandonada ao lado da minha e ficava observando por alguns minutos. Não sei o que havia lá, nunca desci para tentar descobrir e nem contei para ninguém o que acontecia. Gostava de observa-la. 

     Como de costume às 22:35 eu ia até meu quarto e me sentava na escrivaninha branca que ficava em frente a janela para esperar aquela misteriosa garota passar, e pela primeira vez em três meses, ela não apareceu. Eu quis descer para saber o que estava acontecendo e assim o fiz. Corri até lá fora o mais rápido que pude quase caindo da escada e me jogando contra a parede. Abri a porta e não havia ninguém na rua, estava escura e o único poste que funcionava ficava a 10 metros de onde eu me encontrava: parada e quase congelando no frio do subúrbio de Nova Iorque, procurando alguém que eu nem sequer sabia o nome.

     Depois de quase meia hora ali ouço os gritos da minha mãe me procurando. Espero mais cinco minutos e nada. Quando finalmente desisti e me virei para entrar, senti algo passar por trás de mim e uma sensação de calor percorreu todo o meu corpo me deixando paralisada. Pensei nela, tinha que ser, mas quando me virei não havia ninguém e a onda de calor cessou totalmente. Entrei desapontada e com um nó na cabeça. Minha mãe estava em pé na escada conversando no celular com uma feição desesperada e aflita. Depois de me ver desligou o aparelho e suspirou. 

     - Aonde você estava, Camila? - cruzou os braços e começou a bater os pés - 

     - Achei que tinha visto alguém lá fora, mãe. - dei um sorriso de canto - 

     Eu sabia que ela não estava brava, pelo seu tom de voz. Como eu sempre fui comportada e minha mãe confiava em mim, ela só me encarou, balançou a cabeça e apontou para mesa que estava posta para o jantar. 

     Já de barriga cheia e banho tomado estava sentada na escrivaninha pensando por que a garota não apareceu e se ia aparecer no outro dia. Não tinha sono, meus olhos estavam pesados, mas fixados na calçada. Assim passei a noite toda, indo dormir quase seis da manhã.

Sábado, 24 de abril. 15:17

     Olhei para o relógio e já estava tarde. Por que acordei tão tarde? Comecei a me perguntar, pois não lembrava de absolutamente nada da noite passada. Aos poucos as memórias foram voltando e uma nova pergunta surgiu: Será que ela vem hoje? 
     Não tinha nada pra fazer. Na segunda iria começar em um novo emprego e estava um pouco nervosa. Então para relaxar liguei para Dinah que sempre estava disponível para sorvete e Netflix. Disquei o número dela e depois de um tempo ela atendeu. 

Ligação: 

     - Olha só quem está vivíssima, Camila Cabello! Lembrou que tem uma melhor amiga? - tentou parecer séria, mas sem sucesso - 

     - Eu também senti sua falta. Quer vir aqui matar a saudade? - disse empolgada - 

     - Amiga, já estou virando a esquina. 

E desligou na minha cara. Abusada

     Surpreendentemente ela estava realmente virando a esquina. Tudo bem que ela morava a duas quadras da minha casa, mas foi bem rápido. Folgada como é, chegou abrindo a porta e me dando um abraço sufocante. 

     - Você cresceu. - disse me soltando e olhando dos pés a cabeça - Uns três centímetros. 

     - Como você é exagerada! Nos vimos não tem uma semana, ninguém cresce tão rápido, aliás eu nem cresço mais. - revirei os olhos e fiz bico - 

     - Só estava tentando te animar. 

     - Acho que você falhou. 

     Ela me olhou de uma maneira indecifrável e depois de ficar séculos discutindo o que iríamos ver e comer, finalmente decidimos. Enquanto víamos o filme que estava muito chato, Dinah fez um comentário que fez meu coração acelerar. 

     - Quem é a sua nova vizinha? - perguntou com a boca cheia de pipoca -

     - Vizinha? - a olhei sem entender - Que vizinha?

     -  Quando eu estava chegando vi uma garota sair da casa ao lado. Pensei que estivesse abandonada. - parou por uns segundos e riu - Tem que ter coragem de se mudar para aquele lugar. Parece ser imundo. 

     - Espera, espera! - me levantei e pausei o filme - Essa garota de quem está falando estava de calça jeans branca e casaco preto? 

     - Não, estava de short. Por que? 

     Não respondi nada, corri até a porta e fui comprovar se aquilo era verdade. Enquanto dava passos largos até a outra casa ouvia Dinah no fundo me chamando. Parei em frente a casa e observei. Janelas quebradas e trincadas, pintura desbotada, telhado cheio de buracos. Não poderia viver alguém ali. Dinah ainda falava comigo, mas sequer conseguia entender, e quase que por impulso subi as escadas e empurrei a porta que fez um barulho terrível, mas estava aberta. 

     Simplesmente não acreditei no que vi...