THE GIRL IN THE WINDOW
Sexta Feira, 23 de abril.
Todos os dias às 22:42 uma garota passava pela minha rua e eu conseguia vê-la pela janela. Não sabia nada sobre ela, parecia ter 1,65 de altura ou talvez menos. Cabelos longos e pretos e um corpo invejável. Sempre com uma calça branca e um casaco preto e velho como se fosse a única roupa que tinha.
Por três meses ela fez a mesma coisa como se fosse um ritual. Parava em frente a uma casa abandonada ao lado da minha e ficava observando por alguns minutos. Não sei o que havia lá, nunca desci para tentar descobrir e nem contei para ninguém o que acontecia. Gostava de observa-la.
Como de costume às 22:35 eu ia até meu quarto e me sentava na escrivaninha branca que ficava em frente a janela para esperar aquela misteriosa garota passar, e pela primeira vez em três meses, ela não apareceu. Eu quis descer para saber o que estava acontecendo e assim o fiz. Corri até lá fora o mais rápido que pude quase caindo da escada e me jogando contra a parede. Abri a porta e não havia ninguém na rua, estava escura e o único poste que funcionava ficava a 10 metros de onde eu me encontrava: parada e quase congelando no frio do subúrbio de Nova Iorque, procurando alguém que eu nem sequer sabia o nome.
Depois de quase meia hora ali ouço os gritos da minha mãe me procurando. Espero mais cinco minutos e nada. Quando finalmente desisti e me virei para entrar, senti algo passar por trás de mim e uma sensação de calor percorreu todo o meu corpo me deixando paralisada. Pensei nela, tinha que ser, mas quando me virei não havia ninguém e a onda de calor cessou totalmente. Entrei desapontada e com um nó na cabeça. Minha mãe estava em pé na escada conversando no celular com uma feição desesperada e aflita. Depois de me ver desligou o aparelho e suspirou.
- Aonde você estava, Camila? - cruzou os braços e começou a bater os pés -
- Achei que tinha visto alguém lá fora, mãe. - dei um sorriso de canto -
Eu sabia que ela não estava brava, pelo seu tom de voz. Como eu sempre fui comportada e minha mãe confiava em mim, ela só me encarou, balançou a cabeça e apontou para mesa que estava posta para o jantar.
Já de barriga cheia e banho tomado estava sentada na escrivaninha pensando por que a garota não apareceu e se ia aparecer no outro dia. Não tinha sono, meus olhos estavam pesados, mas fixados na calçada. Assim passei a noite toda, indo dormir quase seis da manhã.
Sábado, 24 de abril. 15:17
Olhei para o relógio e já estava tarde. Por que acordei tão tarde? Comecei a me perguntar, pois não lembrava de absolutamente nada da noite passada. Aos poucos as memórias foram voltando e uma nova pergunta surgiu: Será que ela vem hoje?
Não tinha nada pra fazer. Na segunda iria começar em um novo emprego e estava um pouco nervosa. Então para relaxar liguei para Dinah que sempre estava disponível para sorvete e Netflix. Disquei o número dela e depois de um tempo ela atendeu.
Ligação:
- Olha só quem está vivíssima, Camila Cabello! Lembrou que tem uma melhor amiga? - tentou parecer séria, mas sem sucesso -
- Eu também senti sua falta. Quer vir aqui matar a saudade? - disse empolgada -
- Amiga, já estou virando a esquina.
E desligou na minha cara. Abusada!
Surpreendentemente ela estava realmente virando a esquina. Tudo bem que ela morava a duas quadras da minha casa, mas foi bem rápido. Folgada como é, chegou abrindo a porta e me dando um abraço sufocante.
- Você cresceu. - disse me soltando e olhando dos pés a cabeça - Uns três centímetros.
- Como você é exagerada! Nos vimos não tem uma semana, ninguém cresce tão rápido, aliás eu nem cresço mais. - revirei os olhos e fiz bico -
- Só estava tentando te animar.
- Acho que você falhou.
Ela me olhou de uma maneira indecifrável e depois de ficar séculos discutindo o que iríamos ver e comer, finalmente decidimos. Enquanto víamos o filme que estava muito chato, Dinah fez um comentário que fez meu coração acelerar.
- Quem é a sua nova vizinha? - perguntou com a boca cheia de pipoca -
- Vizinha? - a olhei sem entender - Que vizinha?
- Quando eu estava chegando vi uma garota sair da casa ao lado. Pensei que estivesse abandonada. - parou por uns segundos e riu - Tem que ter coragem de se mudar para aquele lugar. Parece ser imundo.
- Espera, espera! - me levantei e pausei o filme - Essa garota de quem está falando estava de calça jeans branca e casaco preto?
- Não, estava de short. Por que?
Não respondi nada, corri até a porta e fui comprovar se aquilo era verdade. Enquanto dava passos largos até a outra casa ouvia Dinah no fundo me chamando. Parei em frente a casa e observei. Janelas quebradas e trincadas, pintura desbotada, telhado cheio de buracos. Não poderia viver alguém ali. Dinah ainda falava comigo, mas sequer conseguia entender, e quase que por impulso subi as escadas e empurrei a porta que fez um barulho terrível, mas estava aberta.
Simplesmente não acreditei no que vi...